Uma família de discípulos de Jesus
Atletas espirituais

Qual é a sua utilidade? [1Co 9.27]

Qual é a sua utilidade?

Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado (1Co 9.27).

Pregado na IPB Rio Preto em 18/07/2010 às 19:30h.

Iniciando…

Nas últimas semanas nos empolgamos (e entristecemos) com a Copa do Mundo 2010. Aproveitamos o “clima” da Copa para analisar 1Coríntios 9.23-27, a fim de conhecer o perfil do atleta espiritual.

Paulo finaliza seu ensino demonstrando que deseja ser útil a Deus. Suas palavras revelam sua preocupação em não ser “desqualificado”. Ele utiliza a palavra adokimos, que significa, literalmente, “ser rejeitado como inútil”.1 Este termo era usado em relação a “metais e moedas que eram rejeitadas por não passarem pelos testes”.2 As moedas não aprovadas eram relançadas no fogo e passavam novamente pelo processo de moldagem.3 Daí as traduções “para que […] eu mesmo não venha a ser eliminado” (NTLH) e “para que […] eu mesmo não venha a ser reprovado” (NVI).

Nesta última pregação sobre os atletas espirituais, eu gostaria de destacar duas instruções que podem ser depreendidas não apenas deste último versículo, mas do ensino geral de 1Coríntios 9. A primeira instrução é…

Cuide-se

Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.

Nesta última semana, viajando para a reunião do Supremo Concílio, em Curitiba, ouvi algumas vezes a instrução que é dada nos inícios dos voos, acerca do uso das máscaras de oxigênio. Caso ocorra despressurização da aeronave, você deve colocar a máscara primeiramente em você. Isso é assim porque se você não estiver bem, não poderá ajudar a outros. Neste trecho da Palavra de Deus, Paulo nos ensina que temos de cuidar nós mesmos. É preciso estar em boa forma espiritual. Ele diz algo semelhante em 1Timóteo 4.16: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina […]”.

Entendamos que o texto não está falando da possibilidade de perda da salvação. Os que foram verdadeiramente convertidos ao Senhor jamais serão arrancados de sua mão (Jo 10.27-29). O que Paulo ensina é que a doutrina da salvação pela graça não pode jamais ser usada como justificativa para a indolência. O verdadeiro crente vive dois sentimentos e posturas aparentemente contraditórios, mas necessários para o equilíbrio da vida com Deus:

  1. A paz e a segurança de participar das bênçãos do evangelho, firmado exclusivamente nos méritos de Cristo, na graça que opera mediante a fé: “[…] quem crê no Filho tem a vida eterna […]” (Jo 3.36; cf. Rm 5.1; Ef 2.8).
  2. A constante autoavaliação, com temor e tremor, a busca de frutos autenticadores da vocação, a preocupação em agradar ao Senhor:

2 Damos, sempre, graças a Deus por todos vós, mencionando-vos em nossas orações e, sem cessar, 3 recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, 4 reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição (1Ts 1.2-4).

O apóstolo entendia que a busca de sinais confirmadores da fé é fundamental, pois conhecia a sentença proferida pelo Senhor, sobre o servo improdutivo:

E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes (Mt 25.30).

Ele entendia que o atleta cristão precisa de confirmação de sua identidade em Cristo, de persistência na corrida, de aperfeiçoamento contínuo de sua estrutura e de sua performance.

Encontramos aqui uma instrução, um desafio e um convite. Nós todos somos convidados a competir com os recursos de Deus, no ritmo indicado por ele, até obtermos a vitória. Para aqueles que estão iniciando a vida com Cristo, uma instrução: o discipulado equivale a uma vida de disciplina – uma existência totalmente dedicada a Deus, sem reservas, marcada por luta contínua contra o diabo e o pecado e selada com a promessa da vitória. Entenda que o aperfeiçoamento ou experiência da santidade não é uma opção em sua caminhada com Deus. Trata-se de um resultado vital da obra da graça, entendendo-se vital como aquilo que diz respeito ou é necessário para a vida. Isso significa que, de modo geral, para conquistar o prêmio, um atleta deve estar melhor hoje do que estava ontem, um time deve ser mais eficiente na marcação de gols hoje do que era na temporada passada, um cristão deve ser mais semelhante a Cristo hoje do que era ontem. Para os que já caminham com Cristo há certo tempo e que se encontram amortecidos, ou desanimados, ou desleixados: é hora de retomar a rotina de exercícios e de retomar a corrida. Cristo, nosso capitão, irá nos capacitar à medida em que nos arrependermos e voltarmos a treinar. Nele somos “mais que vencedores”.

Como eu disse na mensagem da noite do dia 04 [de julho de 2010], este texto nos leva a pensar em coisas muito práticas. De certo modo, estas palavras de Paulo nos remetem a outra passagem do mesmo autor:

Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos(Fp 3.7-11).

Se isso é assim, pense em seus hábitos secretos.

  • Aquele seu pecado sexual oculto: a prática da prostituição, o uso de pornografia, a conversinha imoral ou o acobertamento de imaginação impura, devem ser abandonados imediatamente. Considere isso como perda para ganhar algo melhor.
  • O hábito destrutivo que você alimenta, aquele mesmo que você diz que é neutro, que não é explicitamente proibido pela Bíblia mas que impede o seu testemunho, deve ser abandonado hoje, considerado como perda por causa de Cristo.
  • Pense em seu tempo e seus recursos. Veja o modo como você administra sua agenda: seus interesses no centro e Deus, as coisas espirituais e a igreja em segundo plano ou até último plano.
  • Se você pouco comparece às reuniões da igreja, não se integra, considera um “peso” comparecer à Escola Dominical e ao culto em um mesmo domingo…
  • Mais: Aquela fixação por telas, seja de TV ou de computador, que o impedem de separar tempo para a leitura da Palavra, meditação e oração… Tome consciência de que o computador é instrumento, é ferramenta e não altar de sacrifício, no qual você imola sua vida diariamente.

Em todas essas coisas ligadas a tempo e recursos, meu amigo, melhore, mude, cresça; aprenda a praticar Mateus 6.33: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. Se continuar assim, você não alcançará o prêmio. Considere os itens estranguladores de seu tempo como perda para conhecer a Cristo.

Pense nos relacionamentos:

  • Sabe aquela forma grotesca ou raivosa ou cínica ou indiferente ou brutal como você interage com seus familiares? Abandone este padrão, deixe disso. Considere isso como perda para ganhar a Cristo e ser achado nele.
  • Sabe aquele seu costume de falar mal da igreja e dos irmãos? Sabe aquele teu negativismo do tipo “ah, essa igreja não vai… essa igreja não ora, essa igreja não evangeliza, essa igreja não faz isso ou aquilo? Consagre sua língua a Deus, utilize-a para edificar os santos, fuja da influência de Satanás e retorne à sobriedade. Pare com isso e melhore. Esse é o padrão de Deus. Ou você se aperfeiçoa ou você não alcança o prêmio.
  • E tem mais. Sabe aqueles problemas que você tem “com alguém” há algum tempo e não busca resolver, aquelas pessoas com as quais você precisa voltar a falar? Resolva isso em nome de Jesus. Um reino dividido não vence nenhuma guerra. Relacionamentos entre cristãos rompidos são uma alegria para o inferno e uma vergonha para o reino de Deus. Arrependa-se, abandone seu orgulho e acerte as coisas com seu irmão.

Lembre-se: Em qualquer modalidade esportiva há regras que precisam ser seguidas. O mesmo apóstolo fala sobre isso em 2Timóteo 2.15: “o atleta não é coroado se não lutar segundo as normas”. Na competição da fé Deus estabelece as regras. Existe então um modo de operação da graça divina que precisamos considerar. Quanto à vida com Deus, não corremos da “nossa maneira” e sim de “tal maneira” — uma maneira ordenada pelo Supremo Treinador.

Nos últimos dois séculos observa-se um interesse em adaptar-se a religião cristã — sua linguagem, sua liturgia e suas estratégias — à presente geração. A ideia é fazer o cristianismo mais palatável e digerível à cultura. A intenção não é de todo ruim, mas há um risco de confundirmos as coisas. Compreenda que não é o cristianismo que se ajusta a nós e sim, nós que nos ajustamos ao cristianismo — crer em Jesus equivale a ajustar-se a Jesus. A fé produz nova formatação. Em suma, como Deus nos desafia neste texto? Simples: Precisamos nos sujeitar aos seus termos. Temos de competir orientados por aquilo que ele mesmo estabelece.

Isso nos conduz à segunda instrução…

Cuide dos outros

Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.

Nesses termos, gostaria que você, membro mais antigo da igreja, se lembrasse de que, no início deste mês, recebemos mais de 30 irmãos e irmãs como novos membros da igreja. Como afirma o Dr. Russel Shedd:

A instrução que o cristão que segue a Cristo deve receber não é ganha por revelação mística. Pelo ministério da palavra lida e pregada, pela exortação e exemplo dos detentores do poder na igreja local, sendo o pastor, os dirigentes da escola bíblica, e os membros destacados que mais influenciam seu pensamento e prática cristãos, o recém-convertido adota os hábitos tradicionais de sua comunidade.4

Entenda, prezado membro mais antigo da IPB Rio Preto, que nossa missão é sermos “uma família de discípulos de Jesus, fundamentada na Bíblia, comprometida com a Reforma, que proclama as boas novas da salvação, atua na restauração de pessoas e coopera na edificação do Reino de Deus”. O que isso tem a ver com a palavra de Paulo em 1Coríntios 9.23-27?

Simples: O discipulado é uma caminhada santa. Se nós, membros antigos da igreja não formos santos, os novos discípulos não serão santos, se ficarmos em casa todas as noites grudados no computador ou na TV, desinteressados das atividades da igreja, influenciaremos os novos membros a fazerem o mesmo; se não orarmos, influenciaremos a nova geração de crentes a serem fracos na oração, se não trabalharmos, incentivaremos uma religiosidade indolente, preguiçosa. Se mantivermos impureza em nossas vidas, então surgirá uma geração de podridão e pecado. Isso quer dizer que cada um de nós influencia as rotinas do reino de Deus e as vidas daqueles que estão abraçando a fé.

Vejamos o quadro: Os novos chegam cheios de gás espiritual, mas os velhos vivem pecaminosamente. Os novos chegam querendo servir a Deus, mas os velhos já assumiram posturas marcadas pela desobediência, falta de compromisso, hipocrisia e toda sorte de impurezas. Todos, a começar de nós, membros mais antigos, devem correr com vistas a obter a coroa. Deus não assume nenhum compromisso de abençoar impenitentes e rebeldes. Uma nova sede por santidade, uma nova caminhada de oração e uma busca por renovação de ânimo são necessárias.

Concluindo…

Concluo com uma promessa infalível de Deus: Leiamos juntos Filipenses 1.6.

Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.

Acolhamos essa verdade e segurança em nossos corações. Vamos orar.

Notas

[1] RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento Grego. São Paulo: Vida Nova, 1985, p. 308.

[2] RIENECKER; ROGERS, op. cit., loc. cit.

[3] Ibid., loc. cit.

[4] Ibid., p. 14.

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